Iemanjá é uma das figuras mais reverenciadas nas religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé. Sua celebração, especialmente no Brasil, reúne fiéis, simpatizantes e curiosos em uma devoção que transcende culturas e confiança. Neste dia 8 de dezembro, dados em que muitas casas de Umbanda celebram Iemanjá em sincretismo com Nossa Senhora da Imaculada Conceição, exploramos sua história, simbolismo e importância para a espiritualidade.
Quem é Iemanjá?
Conhecida como a Mãe dos Orixás, Iemanjá é a Senhora dos Mares, regendo as águas salgadas e tudo que delas emana. Protetora dos pescadores e das comunidades que dependem do mar, ela é reverenciada por sua conexão com a vida marinha e sua capacidade de acolher e proteger. Suas características maternais estendem-se à união familiar, aos lares e às celebrações que fortalecem os laços entre as pessoas.
Ela também é chamada de Deusa das Pérolas e é vista como a responsável por aparar a cabeça dos bebês ao nascer. Ela rege as uniões, os lares, os casamentos e as comemorações familiares, sendo o símbolo máximo do cuidado e da maternidade, tanto pelos laços consanguíneos quanto pelos de afeto.
Sincretismos Religiosos de Iemanjá
Ela possui forte ligação com figuras do catolicismo, sendo associada às seguintes santas:
- Nossa Senhora da Imaculada Conceição (8 de dezembro): Celebrada amplamente na Umbanda, é vista como um símbolo de pureza e maternidade.
- Nossa Senhora dos Navegantes (2 de fevereiro): Reverenciada em diversas localidades do Brasil, especialmente nas festas em rios e mares.
- Nossa Senhora das Candeias (2 de fevereiro): Associada à purificação de Nossa Senhora, conforme os preceitos judaicos.
- Nossa Senhora da Glória (15 de agosto): Vinculada à Assunção de Maria, celebrada em diversas tradições católicas e adaptada ao calendário popular brasileiro.
As características de Iemanjá
Suas características reforçam seu papel como divindade das águas, da maternidade e da harmonia. Conheça os principais elementos que a representam:
- Animais: Peixe, cabra branca, pata ou galinha branca.
- Bebidas: Água mineral e champanhe.
- Chakra: Frontal, ligado à intuição e espiritualidade.
- Núcleos: Branco, azul-claro, rosa-claro e verde-claro.
- Comidas: Arroz, canjica, camarão, mamão, manjar e peixe.
- Corpo humano e saúde: Está associado ao psiquismo e ao sistema nervoso.
- Dia da semana: Sábado.
- Elemento: Água, simbolizando fluidez e transformação.
- Elementos incompatíveis: Poeira e sapo.
- Ervas: Colônia, pata-de-vaca, embaúba, abebê, jarrinha, golfo e rama-de-leite.
- Essências: Jasmim, rosa branca, crisântemo e orquídea.
- Flores: Rosas brancas, palmas brancas, angélicas, orquídeas e crisântemos brancos.
- Metal: Prata, ligado à pureza e ao brilho do mar.
- Pedras: Água-marinha, calcedônia, lápis-lazúli, pérola e turquesa.
- Planeta: Lua, reforçando sua conexão com os ciclos e as marés.
- Ponto da natureza: O mar, sua morada espiritual.
- Saudações: “Odoyá!”, “Odofiaba!” e “Mãe das Águas!”.
- Símbolos: Lua minguante, ondas e peixes.
Histórias de Iemanjá: Mitos e Itãs
Iemanjá é uma figura rica em mitologia, e seus mitos (ou itãs) são fontes de aprendizado e reflexão sobre sua essência. Essas narrativas revelam a complexidade de sua personalidade e o simbolismo que carrega. Abaixo estão algumas das histórias mais conhecidas sobre a Mãe dos Orixás.
1. A Origem dos Orixás
Segundo um dos itãs mais conhecidos, Iemanjá é filha de Obatalá (Céu) e Oduduá (Terra), sendo irmã de Aganju, com quem teve um filho, Orungã. Este, feito por uma paixão proibida pela própria mãe, tentou violenta-la. Horrorizada, Iemanjá fugiu, mas foi perseguida.
Quando Orungã estava a alcançar-la, ela caiu exausta, e seu corpo começou a se transformar. De seus seios brotaram dois rios que se uniram para formar o mar. De seu ventre expandido, nasceram os Orixás. Esta mito simboliza a fertilidade e a origem da vida, enfatizando o papel de Iemanjá como mãe universal e geradora da existência.
2. O Pescador e o Amor no Fundo do Mar
Conhecida por sua beleza, certa vez apaixonou-se por um pescador que encontrou na praia. Ela o levou para viver com ela no fundo do mar, e os dois se amaram intensamente. No entanto, por ser humano, o pescador não suportou as profundezas e morreu.
Inconformada com sua perda, ela devolveu o corpo dele à praia, mas continuou a desejar amor. Assim, segundo a lenda, ela passa as noites atraindo pescadores para o mar, onde se apaixona por eles. No entanto, após o amor, os homens morrem, e seus corpos são devolvidos às areias. Esta história reforça o mistério de Iemanjá e a dualidade de seu amor, que transcende o físico e se conecta ao espiritual.
3. A Criação das Ondas
Desde o início dos tempos, os humanos começaram a poluir o mar, deixando as águas sujas e desequilibradas. Irritada com a situação, Iemanjá foi até Olorum, o Deus supremo, para cobrança. Olorum, compreendendo sua dor, deu-lhe o poder de devolver à terra tudo o que não pertence ao mar.
Assim, surgiram as ondas, que levam para a praia o lixo e os resíduos que são descartados nos oceanos. Este itã traz uma importante mensagem ecológica sobre cuidado e responsabilidade, além de evocar a Lei de Ação e Reação, em que toda ação gera uma consequência.
4. O Mar como Símbolo da Eternidade
Outra narrativa destaca a ligação desta orixá com a eternidade. Segundo a lenda, o mar representa o infinito, onde os corpos voltam para a terra (a praia), mas os espíritos permanecem nas profundezas, um plano que transcende o físico. Essa história reflete a ideia de que o corpo é temporário e pertence à matéria, enquanto o espírito é eterno e busca a profundidade da espiritualidade.
A Importância de Iemanjá na Atualidade
Além de seu papel espiritual, Iemanjá traz uma mensagem de preservação ambiental. Segundo uma lenda, as ondas foram criadas para devolver à terra tudo o que não pertence ao mar. Essa história reforça a responsabilidade humana de cuidar dos oceanos, mostrando que a natureza responde às ações humanas.
Como Celebrar Iemanjá no Dia 8 de Dezembro
No litoral brasileiro, é comum que ofertas sejam feitas em Iemanjá, incluindo flores brancas, perfumes e alimentos como arroz, canjica e peixe. As praias se tornam locais de fé e renovação, com cânticos, saudações como “Odoyá!” e pedidos de proteção e ameaças.
Enfim, Iemanjá é muito mais do que um símbolo religioso. Ela representa a força do feminino, a proteção das águas e a união das famílias. Suas características e sincretismos religiosos tornam uma das figuras mais ricas e universais da espiritualidade brasileira.
Neste 8 de dezembro, a celebração de Iemanjá nos convida a reflexão sobre nossa conexão com a natureza, nossos lares e as relações que nos sustentam. Que a Mãe das Águas continue a guiar e proteger todos aqueles que buscam seu auxílio.
Odoyá, Iemanjá!
Curiosidades
Por que Iemanjá é associada ao mar, mesmo sendo uma divindade que simboliza a maternidade?
Iemanjá é vista como a Mãe dos Orixás porque, segundo as tradições, é a fonte da vida, tal como o mar, que é considerada uma origem de toda a existência. Assim como o oceano é vasto, profundo e misterioso, o papel materno de Iemanjá reflete proteção, acolhimento e conexão com as forças primordiais da criação
Quais são as cores mais usadas nas oferendas a Iemanjá e por que?
As cores mais comuns nas ofertas são o branco e o azul claro, que representam a paz, a pureza e as águas do mar. Essas notas simbolizam também a serenidade e a espiritualidade, características atribuídas a Iemanjá e ao seu poder de trazer equilíbrio e harmonia.
Por que Iemanjá é tão reverenciada no Brasil, especialmente no litoral?
Além de ser a divindade das águas salgadas, Iemanjá se tornou símbolo de fé e conexão espiritual em regiões costeiras, onde a vida das comunidades está profundamente ligada ao mar. Sua força protetora é especialmente importante para pescadores e suas famílias, que é incluída nela para segurança e abundância nas pescas. Essa devoção ganhou grande força cultural, tornando suas festas icônicas em cidades litorâneas.