sábado, 27 de julho de 2024
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Umbanda e Candomblé – Tem diferença?

Introdução

A espiritualidade do Brasil se destaca pela riqueza e diversidade de suas tradições religiosas, e duas delas, Umbanda e Candomblé, emergem como significativas expressões da espiritualidade afro-brasileira. Embora compartilhem raízes ancestrais, essas práticas têm características distintas que refletem a pluralidade cultural do país.

O Candomblé, originado na África e trazido ao Brasil pelos negros africanos escravizados, passou por adaptações significativas em terras brasileiras, consolidando-se como uma religião afro-brasileira. Por outro lado, a Umbanda, uma religião propriamente brasileira, teve seus fundamentos revelados por Zélio Fernandino de Moraes no início do século XX. Marcada pelo sincretismo entre catolicismo, espiritismo e religiões afro-brasileiras, a Umbanda representa uma síntese única de influências espirituais.

Ambas as tradições, embora compartilhem alguns aspectos, como a adoração aos orixás, diferem em suas abordagens, rituais e estruturas religiosas. Essas diferenças evidenciam não apenas as adaptações culturais e históricas, mas também a capacidade do povo brasileiro de integrar diversas influências espirituais em um mosaico coeso de práticas religiosas.

Definição, Origens e História: Umbanda e Candomblé

  • Umbanda: Definida como uma religião brasileira. Surgida no início do século XX, mais precisamente em 1908 por Zélio Fernandino de Moraes. A Umbanda é uma religião sincrética que mescla elementos do Catolicismo, Espiritismo e tradições africanas. Sua formação foi influenciada pela busca de uma identidade espiritual brasileira. Origem – Brasileira.
  • Candomblé: Definida como uma religião afro-brasileira, portanto possui raízes mais profundas. O Candomblé remonta aos tempos da escravidão no Brasil. Originou-se das tradições religiosas africanas trazidas pelos escravizados, preservando suas divindades, rituais e cânticos.

Divindades e Cultos:

  • Umbanda: Os praticantes da Umbanda cultuam Orixás, entidades da natureza e Guias Espirituais. A religião é aberta a diversas influências espirituais, e a comunicação com os mortos desempenha um papel importante nos rituais.
  • Candomblé: O Candomblé é centrado nos Orixás, divindades associadas a elementos da natureza e características humanas. Cada Orixá tem um culto específico, envolvendo danças, cânticos e oferendas.

Crenças, Rituais e Práticas:

  • Umbanda: A crença segue as leis da natureza e do plano espiritual, além dos princípios da fraternidade e da caridade. As práticas umbandistas visam o equilíbrio espiritual, a cura e a evolução pessoal. Rituais incluem oferendas, rezas, danças, e a incorporação de entidades espirituais nos médiuns.
  • Candomblé: A crença do Candomblé segue as leis da natureza e dos Orixás, responsáveis por cuidar e equilibrar as energias humans. Os rituais do Candomblé são elaborados e envolvem música, dança e oferendas específicas para cada Orixá. A incorporação dos Orixás nos praticantes, conhecida como “incorporação”, é uma característica marcante.

Orixás e Espíritos:

  • Umbanda: Os nove Orixás venerados na Umbanda são: Iansã, Iemanjá, Nana Buruquê, Obaluaê / Omulú, Ogum, Oxalá, Oxossi, Oxum e Xangô. Na Umbanda, os espíritos que se manifestam durante os rituais são provenientes de pessoas que retornam à terra com o propósito de praticar a caridade.
  • Candomblé: No Candomblé, a quantidade de Orixás pode variar consideravelmente, chegando a abranger de 16 até 72, dependendo da tradição e da casa específica. Os espíritos que se manifestam são os Egun, que podem ser almas iniciadas ou não na religião, refletindo a diversidade espiritual presente nessa prática religiosa.

Sacerdócio, Estrutura Religiosa e Assistência:

  • Umbanda: Na Umbanda, encontramos sacerdotes chamados de “médiuns” ou “pais/mães de santo”. A hierarquia é mais flexível, e os terreiros podem variar em sua organização. A assistência é proporcionada por meio do passe, uma prática que envolve bênção e limpeza espiritual. A comunicação com os espíritos é realizada através de médiuns incorporados, permitindo o diálogo direto entre o plano material e espiritual.
  • Candomblé: No Candomblé, o sacerdote é chamado de “pai/mãe de santo” e desempenha um papel central na condução dos rituais. A estrutura hierárquica é mais rígida, com cargos definidos. A assistência espiritual é buscada por meio da consulta com búzios, uma prática na qual os oráculos são utilizados para obter orientação espiritual e insights sobre questões diversas.

Estrutura dos Terreiros e Abate de Animais:

  • Umbanda: Na Umbanda, não há prática de abate de animais durante os rituais, e a estrutura dos terreiros inclui a presença de altares.
  • Candomblé: No Candomblé, o abate de animais é uma prática que ocorre durante as festas dedicadas aos orixás. Em contrapartida, não é comum a presença de altares na estrutura dos terreiros candomblecistas.

O que é Macumba?

A expressão “macumba” é popularmente utilizada no Brasil para se referir a práticas religiosas de matriz africana, como a Umbanda e Candomblé, sendo frequentemente associada de maneira pejorativa e equivocada. Macumba, por si só, não representa uma religião específica, mas sim um termo genérico que foi historicamente estigmatizado.

Tanto o Candomblé quanto a Umbanda são religiões afro-brasileiras com raízes nas tradições africanas, notadamente trazidas ao Brasil pelos escravizados durante o período colonial. Essas práticas religiosas envolvem o culto aos orixás, entidades espirituais e ancestrais, buscando a conexão com o divino e a natureza.

No entanto, é importante destacar que a macumba, entendida como feitiçaria ou magia negra, não faz parte dos princípios fundamentais do Candomblé e da Umbanda. Essas religiões enfatizam valores como a caridade, a busca pela evolução espiritual e o respeito à natureza.

A ideia de sacrifícios de animais, frequentemente associada à macumba de forma sensacionalista, é uma generalização inadequada. Em algumas vertentes do Candomblé, ocorrem sacrifícios ritualísticos como oferendas aos orixás, mas essas práticas são regulamentadas por normas específicas e visam à celebração e à conexão espiritual, não à magia negra.

A palavra “macumba” tem origens controversas, sendo alguns estudiosos de opinião que ela deriva de termos africanos, enquanto outros a associam a instrumentos musicais utilizados em rituais religiosos afro-brasileiros. Independentemente de sua origem, é fundamental abordar o termo com respeito, evitando estigmatizações e entendendo que as religiões afro-brasileiras são manifestações legítimas de espiritualidade, carregadas de significado cultural e histórico.

Assim, além do uso pejorativo que a palavra adquiriu ao ser associada erroneamente a práticas de magia negra, “macumba” também possui uma conotação positiva quando se refere aos instrumentos musicais utilizados nessas tradições religiosas afro-brasileiras. É importante destacar que, ao abordar o termo, é fundamental considerar o contexto específico em que ele é empregado para evitar generalizações prejudiciais às práticas culturais e religiosas.

Fonte: Wikipédia - Macumba Instrumento Musical
Fonte: Wikipédia – Macumba Instrumento Musical

Conclusão

Apesar de suas raízes compartilhadas, a Umbanda e Candomblé apresentam nuances distintas que as tornam únicas em suas expressões espirituais. Ambas contribuem significativamente para a riqueza da tapeçaria religiosa brasileira, refletindo a diversidade cultural e a espiritualidade que caracterizam o país. Entender essas diferenças permite uma apreciação mais profunda e respeitosa dessas tradições tão intrinsecamente ligadas à história e à identidade do Brasil.

Perguntas mais frequentes

Quem é Jesus para a Umbanda?

Na Umbanda, Jesus Cristo é reverenciado como uma figura de destaque, representado na entidade espiritual do orixá Oxalá. Seu evangelho é considerado uma referência moral, transmitindo valores como caridade e fraternidade. Além disso, a Umbanda abraça princípios como a imortalidade da alma, a crença na reencarnação e a interação com diversas entidades espirituais. Esses elementos contribuem para a construção da cosmovisão espiritual da Umbanda, onde a figura de Jesus desempenha um papel significativo como guia e exemplo de virtudes.

Tem Bíblia na Umbanda?

Na Umbanda, ao contrário das três grandes religiões monoteístas ocidentais (cristianismo, judaísmo e islamismo), não existe uma tradição escrita fundamentada em um livro sagrado, como a Bíblia, a Torá e o Corão. A Umbanda baseia-se em princípios orais, rituais transmitidos verbalmente e ensinamentos práticos, promovendo uma abordagem espiritual mais fluida e flexível, sem uma escritura específica para orientar seus praticantes.

Tem inferno na Umbanda?

Na Umbanda, segundo a perspectiva dos praticantes, não há concepção de céu ou inferno. O terreiro é considerado um espaço de fortalecimento espiritual, onde pessoas de diferentes cores, credos e etnias se unem em busca de evolução espiritual, sem a dualidade tradicional entre céu e inferno.

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João Carvalho de Luz
João Carvalho de Luz
João Carvalho de Luz é um apaixonado estudioso e praticante da Umbanda há mais de 20 anos. Nascido e criado no coração do Rio de Janeiro, João cresceu imerso na rica tapeçaria cultural brasileira, desenvolvendo desde cedo um profundo interesse pelas tradições espirituais do país. Formado em antropologia com ênfase em religiões afro-brasileiras, ele dedica sua vida ao estudo e à prática da Umbanda, buscando sempre aprofundar seu conhecimento e compreensão.
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